Visita de Bento XVI custa 37 milhões por dia

Carvalho da Silva, da CGTP, e António Saraiva, da CIP, concordam que o momento de crise não é o ideal para a visita do Papa. Portugal não está num momento propício para custos tão elevados como o da visita do Papa Bento XVI. António Saraiva, o novo presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), e Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP intersindical, convergem nessa opinião que avaliam mais de um ponto de vista empresarial, da produtividade e do trabalho do que no plano religioso ou social. "Portugal não se encontra num momento propício, e não se compadece, com este tipo de custos com absentismo extraordinário", diz António Saraiva. "Alimenta-se um certo porreirismo, em vez de se assumirem as coisas e de haver responsabilidade", acrescenta Carvalho da Silva. O responsável pela confederação dos industriais portugueses reconhece haver "retornos eventuais no turismo ou na restauração", mas acredita profundamente que "não compensam os custos". "Só vejo desvantagens, de facto. Apesar de não estar de todo em causa a dimensão religiosa desta visita, claro", diz António Saraiva. "As perdas por dia de paragem em Portugal estão quantificadas, segundo os últimos estudos, nos 37 milhões de euros. E verifica-se que Portugal tem excesso de tempos mortos com feriados históricos, religiosos, pontes, etc. Por isso, acho excessivo termos tais custos neste momento de crise, em que precisamos de aumentar a competitividade e em que o país não se compadece com quaisquer perdas", acrescenta o presidente da CIP. Por seu lado, Carvalho da Silva tem uma visão mais politizada do assunto e classifica a disparidade de critérios que acredita existir nas decisões sobre a visita do Papa a Lisboa, Fátima e Porto entre hoje e sexta-feira como hipócrita. "O poder político e o poder económico têm dois pesos e duas medidas. Quando há problemas e os trabalhadores pedem coisas importantes e estruturantes relacionadas com o trabalho e a família o absentismo é muitas vezes criticado ou quantificado como custo elevado. Agora, neste caso, toda a gente tem uma atitude perfeitamente hipócrita e se cala como se nada fosse", diz o líder da CGTP. Carvalho da Silva vai ainda mais longe, ao afirmar: "Quando se trata de fazer o pronunciamento do trabalho, estes valores são tratados como menores. Mas acho que deve haver princípios, porque se é natural que os católicos queiram receber bem o Papa e assinalar da melhor forma esta visita, também deve haver um equilíbrio nas posições". Mas para António Saraiva, da CIP, há mesmo um excesso na tolerância de ponto concedida pelo Governo. "Se fosse o Dalai Lama a visitar Portugal e fizéssemos o mesmo tipo de recepção, a reacção das pessoas seria a mesma? A tolerância de ponto concedida pelo Governo é, deste ponto de vista, excessiva neste momento. Além disso, há um comportamento induzido que alastra a diversos sectores de actividade, porque as pessoas ficam com a noção de que a função pública não está a funcionar, que as finanças também não, etc., etc.". Gera-se a ideia de que "o país está parado, que as escolas não funcionam e que, por isso, os pais das crianças, mesmo no sector privado, também não trabalham porque não têm onde deixar os seus filhos", diz. Fonte: Veja