CPI do Castelão: Heitor diz que governo confessa culpa

Manobra mostra que há algo de muito podre no Governo do Estado Como não poderia deixar de ser, a abortada CPI do Castelão foi o centro das discussões ontem, na Assembleia Legislativa. Agora, na oposição ao governo, os deputados do PSDB iniciaram a sessão criticando a manobra regimental que sepultou a investigação. Um “tapete para cobrir a sujeira da licitação”, segundo Fernando Hugo. Na terça-feira, os deputados Edson Silva e Roberto Cláudio, ambos do PSB, partido do governador Cid Gomes, protocolaram pedidos de CPIs para investigar, respectivamente, o tráfico de drogas e a comercialização de produtos falsificados no Ceará. Como o regimento da Assembleia não permite o funcionamento simultâneo de três comissões de inquérito, a CPI do Castelão, que pretendia apurar denúncias de irregularidades na licitação da reforma do estádio, acabou inviabilizada. Apesar de bem sucedido, o ardil não deixará de ser notado pelo eleitorado, avaliou Hugo. “O governo deu um tiro no pé, porque o povo não é burro e sabe que quem não deve não teme nem treme, e o governo temeu e tremeu”, declarou, na tribuna, o tucano, cujas críticas foram reforçadas por outros deputados do PSDB, agora na oposição ao governo. Para João Jaime, as CPIs sugeridas pela base constituem “um grande golpe”. Ciro Pimenta, por sua vez, afirmou que a CPI da Pirataria atingirá os cearenses mais desvalidos. “Esse governo protege os ricos e persegue os pobres. O pobre que trabalha com pirataria para sobreviver é que será prejudicado”. “A CPI da Pirataria é da pirataria mesmo: pegou todo mundo desavisado”, emendou Vasques Landim (PR). ALGO DE PODRE NO REINO Na tribuna, Heitor Férrer recordou os acontecimentos de terça-feira. Disse ter saído do plenário com “a certeza absoluta do dever cumprido”, por ter protocolado o pedido de CPI do Castelão. “Cumpri meu dever de parlamentar e de fiscal do Poder Executivo”. Para o pedetista, que se disse “estarrecido” e “decepcionado”, o travamento de sua CPI por parte do governo equivale a uma confissão de culpa. “O governo Cid Gomes mostrou que não resiste a uma investigação. Intramuros, o governo deve estar em regozijo. Mas perante a sociedade, a CPI já tem uma conclusão escrita pelo governo do Ceará: ‘Confesso a minha culpa. Não resisto a uma investigação’”. Coube até paráfrase do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564 – 1616) no discurso do pedetista. “Para a sociedade, há algo de muito podre no governo da Dinamarca. Há algo de muito podre no governo de Cid Gomes. Posso afirmar: o rei está nu. Está nu em praça pública. Pode até estar cantando vitória, mas, perante à opinião pública, o governo tirou a máscara de sério e transparente. Lamento dizer: não descarto a possibilidade de corrupção dentro do governo”. CHIFRE EM CABEÇA DE CAVALO Em resposta, o líder do governo na Assembleia, o deputado Nelson Martins (PT), tranquilo como há alguns dias não se via, listou ações do governo estadual que, na sua argumentação, desmentem as acusações lançadas por Férrer. “Os fatos dizem tudo. O governo criou o Portal da Transparência, onde constam todas as receitas, despesas, contratos feitos pela administração. Criou o Portal das Compras, onde todo mundo pode acompanhar ao vivo as licitações do governo. Existe o governo itinerante, que visita os municípios. São várias ações no sentido da transparência”. O petista, mais uma vez, recorreu ao relatório da 7ª Inspetoria de Controle Externo do Tribunal de Contas do Estado, que concluiu não haver indício de irregularidade na licitação para as obras no Castelão. Ademais, segundo Nelson, o mesmo tribunal decidiu, por maioria de votos, que não há irregularidade na Parceria Público-Privada firmada pelo governo. “Então, qual sentido tem apresentar um pedido de CPI?”, questionou o líder do governo. “Manobra é brincar de fazer CPI, quando o tribunal já havia analisado todas essas questões”. Nelson ainda alertou que a tentativa de “botar chifre na cabeça de cavalo” pode acabar tirando do Ceará o jogo de abertura da Copa de 2014. Adahil chama atenção para CPI dos Grampos Além de reprovar a manobra do governo que emperrou a CPI do Castelão, o deputado Adahil Barreto (PR) destacou, ontem, que solicitou a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito para apurar a existência e a utilização de equipamentos de escuta, os chamados “guardiões”, pelo governo estadual. A CPI dos Grampos, como a chama o deputado, não foi instalado em virtude da falta de assinaturas. São necessárias 12 delas, mas, por ora, o pedido de investigação foi subscrito apenas pelos deputados Vasques Landim (PR), Heitor Férrer (PDT) e os tucanos João Jaime, Tomás Figueiredo e Cirilo Pimenta. Adahil baseia seu requerimento em denúncias publicadas pela revista Veja. De acordo com a publicação, o governo cearense teria instalado quatro equipamentos de escuta, sendo dois na Secretaria da Segurança Pública, um no Ministério Público Estadual e um na Secretaria da Fazenda. O parlamentar disse ter notado uma contradição entre o líder do governo na Assembleia, Nelson Martins (PT), e o ex-secretário da Fazenda, Mauro Filho (PSB). Segundo o primeiro, existe um “guardião” na Secretaria da Fazenda, mas a máquina não está sendo utilizada. Já Mauro Filho, de acordo com Adahil, afirma que não há um “guardião” naquela Secretaria. Para o deputado, é preciso saber se os equipamentos estão sendo operados “como manda a lei, ou seja, a serviço do Judiciário”. Fonte: O Estadoce.