Mistério Homem fica três dias em buraco


Luís Antônio do Nascimento não teve ferimentos graves, mas não sabe explicar como foi parar no bueiro. O escritor francês, Marie Henri Beyle, mais conhecido como Stendhal, costumava afirmar que "a presença do perigo confere gênio ao homem sensato". E sensatez definitivamente parece não fazer parte das ações de Luís Antônio do Nascimento, de 32 anos de idade. Ele caiu numa instalação de drenagem da obra do Metrofor, na via férrea, próximo à Rua Napoleão Quezado, na Parangaba, e lá passou três dias sem água e comida. O homem foi encontrado, na manhã de ontem, após pedir socorro, por meio da rede de esgoto, que passa numa empresa de ônibus. Um mecânico ouviu os chamados e, achando estranho, acionou o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) e Bombeiros. Socorro o resgate demorou cerca de três horas e foi feito por populares e funcionários da empresa, já que a ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) só chegou ao local 50 minutos depois. Ao sair, o homem queixava-se de dor e pediu água. Ele estava bastante sujo, de cuecas, desidratado e apresentava ferimentos leves. Bastante desorientado, ele não sabe contar como foi parar no bueiro. Após os primeiros socorros, Luís foi encaminhado ao Frotinha da Parangaba, conforme testemunhas. Ele não conseguia dizer nem o nome. Um policial do Comando Tático Motorizado da PM - que não estava em serviço - encontrou um porta-células nas redondezas do local do acidente, onde havia uma identidade com a fotografia de um rapaz mais jovem, muito parecido com a do homem encontrado. Segundo desconfiam alguns moradores da área, quando caiu no buraco, o rapaz poderia estar bêbado ou drogado. Também foi cogitada a hipótese de que, ao fugir de algum assaltante, ele correu, tropeçou, acabando dentro da caixa-de-visita. "Existem muito bandidos nessa área, que é muito perigosa. Ele não é daqui de perto", afirmaram alguns populares. O Frotinha da Parangaba não confirmou a internação do homem e a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde do Município informou que o Samu, por sigilo médico, não poderia fornecer nenhuma outra informação a respeito do quadro dele. A notícia correu a Parangaba e muito foram até ao local para verificar o tamanho do buraco e quais as razões que impediram um rapaz, aparentemente bem de saúde, não conseguir escapar ileso do acidente e nem conseguir ajuda mais cedo. "É esquisito. O buraco parece fundo, mas daria para uma pessoa gritar, jogar alguma coisa para fora, chamando a atenção de quem passa por aqui", conjecturou o aposentado José Alberto Medeiros. Para ele, mesmo com 67 anos de idade, se fosse a vítima, teria saído com mais facilidade do bueiro.O que chama atenção para o perigo é que muitas crianças brincam sem censura em cima da linha do trem. O muro que deveria isolar a área está quebrado bem no final da Rua Napoleão Quezado. Na tarde de ontem, mesmo depois do resgate do rapaz, a garotada voltou a correr e soltar pipa ao longo da linha férrea. "A gente brinca aqui sempre e não ouvimos nada. Acho esquisito esse homem ficar aí tanto tempo", avalia um dos meninos, Francisco Jefferson, de 11 anos. TV Jangadeiro e Diario do Nordeste.