A falta de chuvas no CEARÀ agrava a situação da pecuária e da agricultura nos municípios, que já amargam perdas

Canindé. Criadores de gado dos Sertões de Canindé já amargam perdas significativas no rebanho com a morte de animais por falta de pasto e água. Eles mostram-se preocupados porque, dia após dia, os animais vão perdendo as fontes para beber e comer. Sob uma temperatura diária de 38º C à sombra, moradores que habitam a Zona Rural não escondem a tristeza com o quadro que se delineou na região. Em meio ao pedregulho em verdadeiros desertos, os animais buscam o que comer, mas dificilmente encontram. Nos pequenos açudes, a pouca água esverdeada não serve mais para o consumo. Um cenário triste que já está se tornando comum no campo. Infelizmente, a situação não será modificada em curto prazo por meio da tão sonhada chuva. Pelo menos nas próximas 48 horas, o Ceará não tem previsão de precipitações, segundo o meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Paulo Barbieri. O Estado do Ceará vem sofrendo as muitas consequências da estiagem deste ano: mortandade de animais, perda da produção agrícola e diminuição dos níveis de açudes e mananciais, ficando impróprios para consumo humano. Na localidade de Benfica, nas margens da rodovia municipal que dá acesso à sede do Município de Canindé, a uma distância de 18km, existe um cemitério de animais bovinos. Nos 133 açudes monitorados pela Cogerh no Estado, a reserva hídrica chega a apenas 60,9% da capacidade total. Sem renovação da água pelas chuvas, as altas temperaturas aumentam o nível de evaporação. Marcelo Nogueira dos Santos, residente no Benfica, em Canindé, lamenta ter perdido oito vacas. "Todas morreram de fome, porque a alimentação é fraca e não dá forças para os animais saírem em busca de pasto, até mesmo porque não existe mais", disse o agricultor. O gado praticamente está comendo pau e folha, não há pastagem, segundo atesta ele. "Não temos condições de comprar ração de armazém para o gado.
Um saco de resíduo custa R$ 40,00. O milho tem o mesmo valor e o farelo custa R$ 28,00. Estamos dando ainda um resto de capim e nada mais", frisa Marcelo Nogueira. Custódio de Sousa, residente no Assentamento Frazão, a 30km de Canindé, é outro agricultor que enfrenta as dificuldades diárias, tentando manter o rebanho. "É um ano de muita miséria, nunca tinha visto isso. Estou sofrendo muito para tentar escapar cinco vaquinhas. Não tenho recursos para comprar ração balanceada, o jeito é apelar para Deus nos mandar chuvas o mais breve possível porque, caso contrário, só irá escapar de quatro pés, mesa e cadeira", prevê seu Chico Custódio, como é mais conhecido na região. De acordo com o médico veterinário da Ematerce, Raimundo Nonato, o problema da mortandade de animais nos Sertões de Canindé é devido à falta de reservas alimentares estratégicas. "Daí o gado fica fraco e, quando começa a precisar de alimento, sofre porque o sistema imunológico está debilitado e a única tendência é morrer", diz. Preço baixo Quem não quer ver seus animais virarem comida de urubu, sacrificam-se e vendem por preços irrisórios. Antônio Honório da Silva, que reside na localidade de Barra Nova, na divisa de Canindé com Itatira, está vendendo o que ainda resta. Uma vaca que antes custava no comércio R$ 1.300,00, está sendo vendida por R$ 700,00 - quase a metade do preço. "Aqui, moço, de verde mesmo, só a esperança, porque o resto já se transformou em deserto", lamenta seu Honório. Assim como na zona rural de Canindé, outras localidades no sertão cearense amargam prejuízos na pecuária e na agricultura em decorrência da falta de chuvas há mais de seis meses. Prejuízo "Estou enfrentando dificuldades para criar cinco animais. Falta alimento e água para o rebanho" Francisco Custódio Pequeno produtor de Canindé MAIS INFORMAÇÕES Prefeitura de Canindé (85) 3343.6937 Funceme - (85) 3101.1088 Cogerh - (85) 3218.7020 EMANUELLE LOBO, ANTÔNIO CARLOS ALVES REPÓRTER/COLABORADOR Extraído Diário do Nordeste