
DOENDO NO BOLSO
Abaiara perde verba do ICMS
Abaiara. Os números dos repasses do FNDE para o município de Abaiara, este ano, refletem bem a limitação de recursos destinados para a merenda escolar. De dezembro até marco deste ano, foram R$ 12.144,00 para os 101 alunos do pré-escolar; R$ 9.020,00 para 247 das creches; e R$ 64.240,00 para os estudantes do Ensino Fundamental. O atual prefeito de Abaiara, Francisco Joaquim Sampaio (PSDB), conhecido como Chico Sampaio, é agropecuarista e está no primeiro mandato. No entanto, seu antecessor, José Moreira Sampaio, é professor e foi assessor da Secretaria de Educação, antes do mandato de prefeito. Mas todo esse conjunto de fatores, conforme atesta a secretária Lúcia Maria, não concorreram para a melhoria do ensino em Abaiara. Esse quadro negativo foi verificado, especialmente, no ano passado. O município ficou entre os três piores do Estado na prova Brasil Alfabetizado, inserido no Programa Educação Idade Certa. Teve resultados críticos em 2008, somente ficando atrás da cidades de Senador Sá e Baixio. Abaiara foi uma das administrações que passou a contar com menos recursos este ano. A má aplicação no setor educacional, considerando os resultados do Programa Idade Certa, fez com que o Governo do Estado reduzisse em 36,2% o repasse dos recursos do ICMS.
Golpe duro
“Esse foi um golpe duro para a Educação. Queríamos saber onde erramos”, disse Lúcia Maria. No entanto, não acredita que somente a melhoria dos níveis de nutrição e da oferta da merenda escolar teriam contribuído para o incremento do desempenho dos alunos. Ela diz que todos os esforços estão sendo empreendidos para elevar o nível dos alunos, que passam pela regularização da oferta da merenda.
PROVINHA BRASIL
Município tem um dos piores desempenhos
Abaiara. A atual secretária de Educação de Abaiara, Lúcia Maria Cardoso de Sousa, diz que foi um momento triste o resultado da Provinha Brasil, a ponto de mexer com os brios de toda a equipe que atua no setor educacional naquele município. “Nós sabemos que estamos no município mais pobre da região, em que uma deficiência está ligada a outra e acaba repercutindo no resultado final das avaliações de nossos alunos”, afirma a secretária. Com relação à merenda escolar ela confirma que esse é o problema mais grave, envolvendo o município. A demora para se fazer uma licitação, que é um processo simples, haja vista a limitação de recursos, prejudicou a oferta este ano, o que fez com que a administração municipal, ficasse de “mãos atadas” para fazer as compras. A demora em se fazer a licitação obrigou uma inquirição da presidente do Conselho de Alimentação Escolar (CAE), Maria das Dores Evangelista. Ela esteve na Secretaria de Educação e houve a promessa de que se regularizaria ainda este semestre. Outro problema foi na incapacidade do município em oferecer uma contrapartida para os R$ 0,22 concedidos pelo FNDE, por meio do Pnae, a fim de manter a merenda escolar. Atualmente, o valor “per capita” da merenda em Abaiara fica em torno de R$ 0,18. “Os próprios técnicos do MEC (Ministério da Educação) reconheceram que não tínhamos como contribuir com recursos próprios, daí que o valor per capita da merenda chegou a ficar inferior aos R$ 0,22”, disse a secretária.
Lúcia Maria diz que é conhecedora do problema da carência alimentar dos alunos. Ela conta que, vez ou outra, um aluno chega passando mal em sua sala, por conta da fome.
CIDADE RICA
Crato tem alto índice de evasão escolar
Crato. Enquanto Abaiara se inclui entre os mais pobres, Crato, a 575 quilômetros de Fortaleza, é um dos mais ricos municípios da região do Cariri, sendo inclusive considerada uma cidade universitária. O que há em comum entre ambos são o fato de que a merenda escolar não apenas é irregular para os alunos, como há um comércio em cantinas, quando deveriam funcionar para a preparação dos alimentos gratuitos dos estudantes. A falta de merenda e comércio de doces por merendeiras foram flagrados na Escola de Ensino Infantil e Fundamental João Leandro, localizado no Sítio Boqueirão, a 26 quilômetros da sede do município.
A diretora Adriana de Sousa mostrou a dispensa, com um quantitativo irrelevante para preparar a merenda escolar: um quilo de feijão e ovos. Somente a água do filtro era oferecida gratuitamente para os estudantes da escola. “Essa é uma situação momentânea, não tem sido uma prática comum na nossa escola”, desculpa-se a diretora. Do mesmo modo, o secretário de Educação do Crato, José Valentim Dantas, comenta que a situação é de logística. Ou seja, com as chuvas, não somente tem sido difícil os estudantes se deslocarem de suas casas para as escolas, como também fazer chegar os gêneros alimentícios nas localidades mais distantes e que tem como acesso a estrada carroçal. Valentim não concorda com o comércio da merenda escolar e diz que irá manter uma fiscalização mais ostensiva, no sentido de coibir essa prática. “Sabemos que a merenda escolar é um fator importante de motivação do aluno. Mas nosso problema maior é com a gestão”, disse Valentim. Crato chama a atenção da Secretaria de Educação do Estado por estar entre os 20 municípios cearenses, de um total de 184, com maior índice de evasão, de acordo com o censo do ano de 2007.
Diario do Nordeste