Doenças tão severas para adultos já perturbam as crianças

Estresse, depressão, síndrome do pânico, doenças tão severas para adultos já perturbam as crianças. Quem primeiro nota os sintomas são as escolas, porque se refletem lá. Além disso, hipertensão, diabetes e taquicardia também preocupam. Houve um tempo em que as crianças tinham de se preocupar apenas em ter um boletim com notas azuis. Havia espaço e tempo para brincar. O mundo delas mudou. Hoje, elas têm uma série de preocupações e responsabilidades. Na escola, desde cedo, são submetidas a metodologias que têm foco na aprovação no vestibular. Além da escola, o tempo é preenchido com cursos de idiomas e prática de esportes. Os momentos em família são curtos e, muitas vezes, mal aproveitados. Algumas têm de conviver com conflitos familiares. De vez em quando, presenciam cenas da violência urbana. Tudo isso se reflete na saúde das crianças, que têm adquirido precocemente doenças de adultos. Estresse, depressão, síndrome do pânico, doenças tão severas para adultos, já perturbam os pequenos. De acordo com a psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga, Rosane Maneira da Rocha, estresse, depressão, ansiedade, agressividade são alguns dos sintomas que crianças e os adolescentes têm apresentado. ``Quem nota isso primeiro são as escolas, porque esses sintomas se refletem lá. Daí a escola chama os pais e orienta a procurar ajuda``, explica. Quanto às causas do estresse, Rosane reforça que cada caso é um caso. Mas, na opinião dela, as escolas têm se preocupado mais com quantidade do que com qualidade. ``São muitas tarefas, livros com muita informação. A criança é muito exigida. Há escolas que, a partir do ensino fundamental, já põem o aluno para fazer prova sozinho, quando o ideal seria ler a prova com os alunos, perguntar se eles têm alguma dúvida, como era feito antes``, argumenta. Ela também relaciona o estresse e a ansiedade com o excesso de atividades que os pais estão propondo. ``A criança fica sem tempo pra fazer nada. Quando a criança não tem nada pra fazer, ela vai brincar. Brincar é importante, porque elas fingem ser adultos: um pai, uma mãe, motorista, empresário. Ela usa a criatividade quando se imagina em várias situações``. Sem tempo para brincar e estimular a criatividade, ela teme que as crianças se tornem adultos que precisam de manual para ter as respostas de que precisa. Família O ambiente familiar é um dos principais fatores para ocasionar o estresse. ``Quando a família não está bem, a criança também não está bem``. A maioria dos casos de crianças sofrendo com estresse e ansiedade se deve à cobrança das famílias. ``As nossas famílias estão sempre querendo provar não sei o quê para não sei quem. Estão sempre correndo, enchendo os meninos de atividades e esquecem o maior bem, que é transmitir respeito, educação, herança cultural``, lamenta Rosane. Ela destaca que, para a psicologia, não importa a quantidade de atenção, mas sim a qualidade: olhar no olho, permitir que a criança perceba o quanto os pais querem estar com ela, brincar com ela. ``A criança se sente valorizada, amada. É um erro querer compensar a falta dos pais com presentes. Presentes não substituem um olhar, atenção``, assevera. Por: Lucinthya Gomes